segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A base do desastre educacional

Editorial
O  Globo

 ‘Pátria educadora’ em crise eterna

Editoria de Arte

 Ilustração para o editoral "A base do desastre educacional" 

Não demorou muito para a própria presidente Dilma desdizer o lema “pátria educadora”, lançado por ela na posse no segundo mandato, para ser o eixo do novo governo. A fim de evitar que haja o mínimo de 171 votos na Câmara exigidos para o impeachment, Dilma atendeu seu principal consultor político e criador, Lula, e, numa reforma ministerial, ampliou de seis para sete o número de pastas do PMDB, encolheu o peso do PT no primeiro escalão e entregou a condução política do governo aos lulopetistas Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), mantendo Edinho Silva, também ligado a Lula, na Secretaria de Comunicação. Nessa dança das cadeiras, o Ministério da Educação entrou como contrapeso. Voltou para ele Aloizio Mercadante, do PT, defenestrado da Casa Civil como desejava há tempos o próprio Lula.

Nada condizente com um governo que fundara a “pátria educadora”. A escolha para o MEC de Renato Janine Ribeiro, professor da USP, intelectual conhecido, ligado ao PT, fora bem recebida. Ele substituiu o ex-governador Cid Gomes, abatido num choque com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e cujas credenciais para o posto eram o bom trabalho feito na Educação, no Ceará.

Os cinco meses de Janine no MEC, consumidos em parte por um amplo movimento de greve em universidades federais, não foram tempo suficiente para a avaliação do ministro. Ele precisou fazer ajustes no orçamento da pasta, devido à crise fiscal grave do país, mas lançou a Base Nacional Comum, pedra fundamental que sustentará o currículo único para o ensino básico, uma carência histórica.

Já as graves deficiências na Educação que sabotam o país continuam à vista de todos. Há avanços, mas quase sempre lentos diante da necessidade de se recuperar o tempo perdido. Há carências de toda ordem no ensino básico. Uma das mais graves é a má formação ainda de uma parcela ponderável de alunos do Fundamental, o antigo Primário. Em cada 100 crianças em idade para estarem alfabetizadas, 22 não leem como deveriam, 35 não escrevem e 57 não demonstram o domínio de Matemática que precisariam ter, segundo a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), do MEC. 

O indicador que sintetiza este drama educacional é a taxa de “analfabetismo funcional”, estágio em que a pessoa não entende de forma correta o que lê, tampouco escreve com o mínimo de correção, nem executa operações simples de matemática. Dados do MEC mostram que o índice já foi de 39%, mas caiu para 27% em 2011. Porém, continua alto. É sobre uma base frágil, portanto, que se assenta o restante do ciclo básico. Organizações da sociedade e o Estado pactuaram metas para que o ensino no Brasil esteja em 2022 no mesmo nível em que hoje se encontra a OCDE (entidade que congrega os países desenvolvidos). Passos têm sido dados, mas há obstáculos. Um dos mais difíceis de superar é o ensino médio, onde o rendimento escolar apresenta mais problemas. Não por acaso, nele se mantém elevada a evasão escolar, 10% em média.

Há quem resuma a questão educacional a verbas orçamentárias. Não é simples assim, como demonstram os vários indicadores disponíveis. Muito precisa ser feito na melhoria de gestão.

OS PONTOS-CHAVE

1-Proporções elevadas de alunos ainda não leem, escrevem e fazem contas como deveriam

2-Foi positivo o lançamento da Base Nacional Comum, para enfim haver um currículo único

3-Na reforma ministerial, o MEC foi contrapeso, sinal de desprestígio, apesar do discurso da presidente

4-Há avanços, mas ele é lento, diante do enorme tempo perdido, e não ocorre de maneira uniforme

5-O ensino médio é o que apresenta as maiores deficiências; não por acaso, há nele alta evasão

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